CHAMADA PARA O DOSSIÊ - Vol. 02 N. 03 - Nos encarnes da vida: produção, gestão e difusão de conhecimento em gênero, sexualidades e queer

23-09-2021

COORDENADO POR: Anderson Ferrari, Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, Brasil). Professor adjunto de Ensino de História da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF, Brasil), Clebemilton Nascimento, Professor Assistente vinculado ao Centro de Letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutorando em Difusão do Conhecimento pela UFBA e Suely Aldir Messeder, Doutora em Antropologia pela Universidade Santiago de Compostela, validado no Brasil pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia - UFBA, professora titular da Universidade do Estado da Bahia - UNEB.

PERÍODO PARA SUBMISSÃO DOS TEXTOS: 22 de setembro de 2021 a 20 de dezembro de 2021.

DATA DE PUBLICAÇÃO DO DOSSIÊ: 30 de janeiro de 2022.

O contexto atual tem sido marcado pelas perdas e retrocessos no debate democrático e no acesso aos direitos, atingido fortemente a população LGBTQIA+ e os estudos acadêmicos-científicos no campo das relações de gênero, sexualidades e queer.  No âmbito acadêmico, temos nos ocupado da produção de contradiscursos como resistências ao negacionismo e aos ataques sistemáticos à ciência e às universidades. Estamos tratando de uma política declaradamente antigênero que contra-ataca o desenvolvimento e a consolidação das pesquisas de um campo do conhecimento cuja produção promoveu um boom qualitativo e quantitativo nas duas últimas décadas.  

O presente dossiê temático é, portanto, parte desse jogo de forças e relações de saber-poder, entendido como um gesto de resistência inventiva e persistência epistêmica. Concebemos como uma ação reativa criadora na direção de uma coalizão que visa aglutinar escritos cujo campo problemático se volta para os processos de produção, gestão e difusão do conhecimento no campo das relações de gênero, sexualidades e queer, considerando e acolhendo sua diversidade temática e teórico-epistemológica.  

Nesse sentido, a produção de conhecimento nesse campo é entendida como um processo de criação cuja emergência humana é a busca de Mais Vida a partir da formação e da transformação. Dito isso, espera-se da pessoa pesquisadora um conjunto de gestos performativos e constitutivos dirigido a uma ciência outra, blasfêmica, colaborativa, orientada pelos afetos e pelo desejo de grupalidade. Quanto à gestão do conhecimento no campo do gênero, sexualidades e queer, estamos entendendo-o como um saber fazer complexo e encarnado, ou seja, um fenômeno cognitivo polilógico que coloca em relação a gestão da vida, a gestão epistêmica e os aspectos organizacionais de uma cultura científica plasmada nos processos que o singularizam. Desse modo,  ampliar a gestão do conhecimento como dimensão constituinte da nossa existência ontológica, epistêmica e organizacional é compreendê-la em seus horizontes decorrentes das afetações e encarnes promovidos pela intersecção entre docência, pesquisa e os ativismos. 

Nessa direção, o Dossiê pretende acolher escritos oriundos não somente da grande área das ciências humanas e sociais, como também dos encarnes, das dobras e inflexões inter/trans/multidisciplinares em suas intersecções com outros marcadores sociais da diferença. Serão aceitos manuscritos no formato de narrativas, ensaios, pesquisas, relatos reflexivos e analíticos de experiências, dentre outros estilos de disseminação de conhecimento cujas modelagens permitam promover tanto um aprofundamento teórico quanto a aplicação empírica desses referenciais em diferentes contextos, práticas sociais e discursivas. 

Estamos convocando líderes, vice-líderes, pesquisadores e pesquisadoras de grupos e núcleos de pesquisas situados e situadas nesse campo a cartografar os processos de produção e gestão do conhecimento em suas existências coletivas e formas de organização e ação política. Pretendemos aglutinar saberes localizados e experienciais que valorizem os processos e as tessituras desse conhecimento científico-encarnado projetado para a promoção de vidas e orientado por políticas cognitivas corporificadas e encarnadas no compromisso com agendas de justiça, seja ela social, racial, erótica, científica, ambiental e anticapitalista.   

Acolhemos e celebramos experimentações que tenham por objetivo a criação de referenciais teóricos e epistemológicos, bem como de modelagens metodológicas próprias e apropriadas produzidas em experiências desde o Sul-Sul global. Assim, Pesquisas Encarnadas, Escritas de si, Escrevivências, Etnopesquisas, dentre outras tantas formas de denominar nossos protagonismos epistêmicos e insurgências de(s)colonias ou anticoloniais, serão acolhidos. 

Da mesma forma, valorizam-se os investimentos em modos de existência e resistência científica insurgentes que promovam fricções nas abordagens monológicas e dicotômicas que separam teoria e prática, valorizando deslocamentos epistemológicos, seja como insurreições na subjetividade seja no pensamento, sem deixar de problematizar a colonialidade do ser, saber, tensionando os interesses neoconservadores e neoliberais postos sobre a política do presente.  

Por fim, esta proposta abre-se para práticas de pesquisa que tensionam a geopolítica dominante na produção e difusão do conhecimento que tem nos alijado de um protagonismo teórico e epistêmico. Com isso, estamos ratificando a urgência de reinventar a linguagem utilizada para representar o conhecimento produzido, cujos caminhos éticos, estéticos e poéticos potencializam horizontes epistemológicos outros a partir da complexidade, multiplicidade, multireferencialidade, variedade e, especialmente, da interseccionalidade.